O SENTIDO VERDADEIRO DE EDUCAR: um relato de paixão pela educação e pela juventude

Giovana Ottoni é psicóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), com licenciatura em Filosofia e pós-graduação em Conhecimento e Inclusão Social na Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apaixonada pela educação e pela juventude, Giovana tem se destacado como uma parceira engajada em promover a transformação social. No CEDUCVR, liderou diversos projetos socioeducativos, atuando como educadora e coordenadora de iniciativas dedicadas exclusivamente a jovens e adolescentes em situação de alta vulnerabilidade social. Neste relato emocionante, Giovana compartilha seu compromisso apaixonado pela construção de um futuro mais inclusivo e igualitário para a juventude.

Comecei a conversar com um dos nossos meninos com quem precisei ficar mais próxima para explicar as atividades. Em um dado momento, olhando-me nos olhos, disse: “eu ganhava 10 mil reais por final de semana como gerente de boca”. Eu sabia que ele queria se mostrar um pouco, mas também sabia que não era de todo uma mentira. Perguntei num impulso: “Mas o que te fez decidir agora querer trabalhar um mês inteiro para ganhar 400 reais?”. E ele, que parecia não esperar aquele questionamento, respondeu: – “Depois que meu irmão foi preso, entendi que nada paga essa liberdade. Ele era tudo para mim”. A partir desse dia, nossa relação se tornou muito mais verdadeira. Eu não deixei de ser sua educadora, mas ele tinha entendido que eu me importava sinceramente com ele.

O primeiro desafio com jovens que vivem uma realidade extremamente vulnerável, por incrível que possa parecer, não é fazê-los ter acesso aos bens materiais que nunca tiveram. Nem mesmo apenas garantir que tenham vagas em Programas de Aprendizagem, Escolas ou Universidades. Enquanto não fizerem a experiência de descobrirem o próprio valor, o valor inestimável que a vida deles carrega, não vão se manter em nada, não vão dar conta de uma realidade para a qual nunca foram educados. Os nossos jovens não encontram uma ONG, encontram pessoas dispostas a caminhar com eles.

O maior choque não é começarem a ganhar um salário pelo próprio esforço, o que é fascinante no mundo do trabalho. O maior impacto é que começam a encontrar um lugar que os acolhem quando erram, se descobrem perdoados por aquelas palavras ditas de forma tão reativa e agressiva, como estavam acostumados.

Eles nunca experimentaram ser orientados com esse afeto que não poupa e nem trata como pobre coitados. Orientados uma vez, duas vezes, três, quatro, cinco vezes e quantas for necessário: essa novidade é radical no relacionamento com eles. Alguém que aceita escutá-los e ser companhia – não como terapia, mas como um ser humano que carrega o mesmo coração –  em suas histórias e dores latentes: violência doméstica, abusos, drogas… propondo um trabalho concreto, aonde podem colocar as próprias mãos e entender que a vida é útil, que existe um gosto único em ajudar a construir um mundo mais fraterno… Isso nunca estará dentro dos 400 reais que uma empresa decide pagar.

Durante os anos privilegiados em que trabalhei com adolescentes em Liberdade Assistida e na Fundação CASA, ouvia sempre deles as razões de furtarem, roubarem e matarem:

“- Mas eu faço isso com aqueles que tem. Eu não tenho. Com quem pode comprar outro. Eu não posso.” Não esqueço a dor de ver um menino de 14 anos (não tinha nem 1 metro e meio de altura) com os dentes quebrados, porque tinha arriscado roubar uma moto e quando seu parceiro acelerou, acabou caindo da garupa e ficando cara a cara com a vítima do assalto. Apanhou a ponto de perder quase todos os dentes. Foi ele a vítima. E continuará podendo ser. Na maioria das vezes é justamente aí que eles se acostumaram a colocar a própria esperança: bens, acesso, moradia, benefícios, garantia de trabalho e salário no fim do mês.

A Educação de jovens em situação de vulnerabilidade nos traz desafios profundos e “primordiais”, antes de tudo, no que diz respeito à dignidade de um ser humano. Somos nós, adultos, educadores, os que precisam recuperar outra vez o sentido verdadeiro de educar. Talvez estejamos alimentando, quem sabe sem nos darmos conta, aquela certeza cruel de que “eu só tenho valor se”, “se sou como você”, “se tivesse tudo que você tem”, “se tivesse estudado ou feito faculdade”, “se tivesse dinheiro”. Aquele valor condicionado que talvez escutaram anos e anos das pessoas mais próximas: “só quando você estudar”; “só se você fizer aquilo”; “só se você for igual a seu irmão”, ou coisas piores que nos chegam pela boca deles mesmos.

EXPEDIENTE: texto escrito por Giovanna Ottoni – Educadora CEDUCVR.

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Davi Dorneles Cardoso

Psicólogo do setor de Desenvolvimento Humano e Organizacional – DHO

Davi Dorneles foi aprendiz do programa de aprendizagem do CEDUCVR. É graduado em Psicologia pela PUC Minas. Possui experiência em recrutamento e seleção de pessoal.

Atualmente, é responsável pelo setor de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO), onde coordena a jornada de experiência tanto dos aprendizes quanto das empresas parceiras. Sua missão é proporcionar uma experiência de desenvolvimento profissional positiva para os aprendizes, por meio de ações de gestão de desempenho, orientação de carreira e engajamento no trabalho.

Maria Bernadete da Silva

Analista de Projetos

Bernadete é graduada em Terapia Ocupacional, com pós-graduação em Saúde Mental e especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.

Com 25 anos de experiência na área de Saúde Mental, dos quais 18 foram dedicados ao ensino, Bernadete atuou supervisionando a prática clínica de acadêmicos e ministrando aulas teóricas. Além disso, é educadora em cursos profissionalizantes voltados para a população periférica em situação de vulnerabilidade social.

Desde 2010, ocupa o cargo de Analista de Projetos no CEDUCVR, onde suas principais responsabilidades incluem o planejamento de ações, campanhas e programas de voluntariado, além de mapear e fomentar iniciativas sociais e educativas voltadas ao mundo do trabalho.

VALÉRIA DURÃES LOCKMANN

Coordenadora de Atendimento

Valéria é graduada em Pedagogia, com especialização em Novas Tecnologias de Educação e Treinamento, além de extensões em Planejamento e Gestão de Projetos para Redução da Pobreza em áreas urbanas, Gestão Estratégica do Terceiro Setor e Gestão de Projetos Sociais pela AVSI. Ela também possui formação no método “Educar é um risco” de Luigi Giussani, voltado para educadores.

Com 17 anos de experiência em instituições do Terceiro Setor e em programas sociais, Valéria tem expertise em gestão e monitoramento de projetos voltados à geração de trabalho e renda, formação de equipes técnicas e coordenação pedagógica de cursos de formação profissional. Além disso, possui vasta experiência na articulação e desenvolvimento de parcerias com empresas, instituições de ensino, poder público e comunidades locais.

Desde 2017, é responsável pelo relacionamento institucional e comercial com os parceiros do CEDUCVR, desempenhando um papel estratégico na consolidação dessas parcerias e fortalecendo a presença da instituição. Seu propósito é manter relações de confiança com os clientes, atendendo suas expectativas com ética, transparência e alta performance. Atualmente, ocupa o cargo de coordenadora de atendimento no CEDUCVR.

Cláudia Lina Pedras

Gerente Administrativo/financeiro

Cláudia é graduada em Secretariado Executivo Bilíngue, com vasta experiência em gestão de contratos, assegurando o cumprimento dos objetivos pactuados, alcance de metas e resultados previstos. Ela também possui expertise na elaboração de relatórios para entidades sem fins lucrativos, relacionamento com parceiros e fornecedores, além de pesquisa e desenvolvimento de material didático. Cláudia atuou como educadora em cursos livres de Vendas e Relacionamento com Clientes.

Atualmente, é Gerente Administrativo-Financeiro do CEDUCVR, sendo responsável pela estruturação e organização das áreas administrativa, financeira e jurídica da instituição.

JANICE FERNANDES LUNA

COORDENADORA PEDAGÓGICA

Janice é formada em Psicologia pela UFMG, com pós-graduação em Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela Uniles/MG e em Mundo 4.0 e Soft Skills pela USP. Durante sua formação, estagiou na escola profissionalizante “Aslam – Associazione Scuole Lavoro Alto Milanese”, na Itália. Possui vasta experiência na gestão e desenvolvimento de projetos sociais.

Atuou como Assistente de Projetos Sociais no Incremento do Acesso aos Serviços Sociais e Ocupacionais em Reassentamentos de Baixa Renda, assessorando microempreendedores e grupos produtivos, além de supervisionar cursos de Educação Profissional na CDM – Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana.

Com mais de 20 anos de experiência em Educação Profissional, desde 2005 Janice é Coordenadora Pedagógica no CEDUCVR, sendo responsável por todas as ações pedagógicas da instituição. Sua atuação na coordenação da Educação Profissional e Tecnológica é marcada pelo uso de práticas pedagógicas inovadoras e ativas, com o apoio de recursos digitais modernos.

ELENICE DE OLIVEIRA MATOS

CEO

Elenice é graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com pós-graduação em Gestão de Organizações do Terceiro Setor. Com uma trajetória de 20 anos, Elenice tem ampla experiência na coordenação e liderança de equipes multidisciplinares e na gestão de projetos sociais voltados para a geração de trabalho, renda e desenvolvimento comunitário.

Atualmente, é CEO do CEDUCVR, sendo responsável por acompanhar e mapear a legislação, regulamentações e práticas relacionadas à educação para o trabalho.

Júlia Maria da Silva

Gerente Executiva

Júlia cursou Técnico em Mecânica no CEFET e é licenciada em Disciplinas Especializadas, com especialização em Planejamento e Gestão de Projetos para Redução da Pobreza Urbana. Ela realizou estágio na escola profissionalizante “In Presa”, na região de Brianza, Itália, e participou de um intercâmbio metodológico de boas práticas em promoção e inclusão social de jovens em Lodi, Itália, de 2009 a 2011.

Júlia atuou como professora nas escolas POLIMIG e UTRAMIG e tem experiência em educação corporativa, tendo sido Analista de Treinamento na USIMINAS Mecânica. Além disso, foi Supervisora de Cursos Técnicos e Coordenadora de SIE-E na Escola da ASSEDIPA/Ipatinga, Técnica em Recursos Humanos na Cia Vale do Rio Doce, e Coordenadora do Setor de Educação Profissional na CDM – Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana.

Atualmente, Júlia é Gerente Executiva do CEDUCVR, sendo responsável pela coordenação da execução dos processos institucionais e pela definição de estratégias de treinamento e desenvolvimento da equipe de profissionais da instituição.

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